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Um pouco de histórias de nossa infância e adolescência.

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“O SENHOR DO SOL”

 FAZENDA SANTA RITA – SERRA DE CIMA

 

NOSSAS FÉRIAS NA SANTA RITA

Aventuras dos irmãos Cunha Rodrigues - Renato, Olavo (in memoriam) e Paulo - e Carneiro Neves - Jerferson (Professor Pardal) e Ricardo (in memoriam)

 

 Vídeo muito emocionante e com uma bela narrativa, “O Senhor do Sol” resgata o passado de um tempo que deixa saudades para toda a nossa geração, ao se reportar à Fazenda Serra de Cima (Santa Rita). Doada pelo Barão de Aymorés à filha Theodózia e, depois, herdada por sua filha Alice Neves – carinhosamente chamada por todos de Dona Fitinha – a fazenda recebeu esse nome por D, Alice ser devota de Santa Rita de Cássia.

 

Era nessa fazenda que nós, os irmãos Cunha Rodrigues, e nossos primos Carneiro Neves costumávamos passar uma parte de nossas férias escolares.

É com muito orgulho que passarei a contar uma pequena, porém saudosa, parte dessa história de quando íamos passar férias na Fazenda Santa Rita.

Ao falar da Fazenda Santa Rita, não posso deixar de mencionar a Fazenda Serra de Baixo, onde ficava o Casarão do Barão de Aymorés, nosso bisavô.

Quando você olhava o Casarão do Barão de frente, via, à sua esquerda, a uma distância de mais ou menos uns 200m a 300 m, o local por onde passa um córrego que vem da Serra de Cima e era conhecido como “banheira”, - provavelmente, as pessoas costumavam tomar banho ali. Dizíamos: “Vamos lá na banheira!”. Era um lugar muito bonito, formado por uma bela vegetação nativa que se misturava com algumas plantas que, suponho, foram trazidas de fora e plantadas ali nas imediações. Lembro-me muito de umas palmeiras de menor porte, se comparadas às cinco palmeiras imperiais que ficavam na parte de trás do Casarão do Barão. Era, realmente, um lugar muito bonito e com uma vegetação bem preservada. Logo um pouco mais abaixo, nesse córrego, existia um local que era o nosso preferido para banhos, por se tratar de um local com menos vegetação. Suponho que a essa nossa preferência tenha sido direcionada por algum adulto, que nos fazia crer que o local da “banheira” poderia ser visitado por jacarés ou coisas parecidas. Os mais velhos contavam-nos muitas histórias da existência de diversos animais selvagens na região, inclusive a temida onça suçuarana, sem falar das endiabradas, traiçoeiras e venenosas cobras, cascavel, preguiçosa, jararacuçu e - se vocês pensam que vão ficar de fora, meninas, estão enganadas! rsrsrsrsrs -, havia também muitas jararacas.

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Lembro que, no local onde nos banhávamos, havia um lajedo, no leito do córrego, por onde passava a água, que batia na nossa canela. Ao lado, uma pedra – aliás, uma das características da região era a existência de muitas pedras, o que, inclusive, despertava a cobiça de garimpeiros em busca de pedras preciosas. Nessa pedra, que devia ter uns dois metros de altura, subíamos para pular em um laguinho formado ao lado dela.

 

A seguir, foto atual do local denominado na época de banheira: Aquelas palmeiras que mencionei já estão bem crescidas.

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Palmeiras Imperiais
Existentes no local denominado de Banheira - que fica a uns 200 m de onde existia o Casarao do Barao de Aymores.

Quando, outro dia, comentei que a cavalgada deveria ser uma das atividades turísticas entre a Serra de Baixo e a Serra de Cima, estava me referindo a uma espécie de trilha ou caminho que interligava as duas fazendas. Lembro bem que esse caminho ou trilha que nos levava à Serra de Cima passava exatamente nesse lajedo do córrego e, depois, adentrava por uma mata muito bonita, com fauna e vegetação riquíssimas. Por todo o caminho, íamos ouvindo o cantar da passarada – mas sempre com um medão danado da tal da onça! Em alguns pontos, era muito difícil manejar os cavalos para evitar acidentes, pois alguns trechos eram bem acidentados e com rochas no meio do caminho, demandando grande habilidade na montaria, coisa que, com certeza, não tínhamos. Deixando esta parte mais acidentada, chegávamos, algum tempo depois, na Serra de Cima - Fazenda Santa Rita.

A seguir algumas fotos da casa da Fazenda Santa Rita.

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— Nome

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Ecila

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Alice

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— Nome

Ao chegarmos na casa da Fazenda Santa Rita, erámos muito bem recebidos por Dona Fitinha, sua irmã Dona Carmen Neves, Ecila - se observarem, Ecila é o nome Alice de trás pra frente -, Penha (Pingo) e o esposo de Ecila, o Zelão.

Ecila e Pingo eram afilhadas de Dona Fitinha e Dona Carmen, respectivamente, a quem chamavam carinhosamente “Madrinha”.

Pelas fotos, podemos verificar que, em frente à casa, havia um belo varandão. Ao subirmos a escada, tínhamos acesso ao varandão que, por sua vez, nos levava a uma grande sala que era contornada por quartos e banheiros. Nos fundos, ficava a cozinha.

Quem eram e o que representavam os moradores da Fazenda Santa Rita,  Dona Alice Neves – que chamaremos de D.Fitinha, daqui em diante - e Dona Carmen Neves? Eram duas pessoas educadíssimas, verdadeiras damas. Falavam em tom de voz moderado a baixo – não alteravam o tom voz em qualquer cinscustância. Além disso, eram possuidoras  de uma cultura admirável para a época. Hoje em dia, lamento muito não ter sabido valorizar e desfrutar melhor desses momento ricos e maravilhosos que lá passamos mas, enfim, nem tudo na vida é perfeito e, na medida do possível, acabamos aproveitando esse convívio.

Uma das filhas do Barão de Aymorés, dona Theodózia Rodrigues da Cunha, conhecida como, dona Theodozinha, foi casada com seu primo o engenheiro Dr. Antônio dos Santos Neves e teve 14 filhos, dentre eles as três filhas que farão parte destas lembranças:

Alice Neves, a Dona Fitinha, apelido colocado pelo pai, quando ela era ainda bebê e usava uma grande fita no cabelo;

Carmem Neves, que vivia na Fazenda Santa Rita com Dona Fitinha, e

Maria Neves, que morava em Vitória, nesse tempo das minhas recordações.

Dona Fitinha e Dona Carmem, as moradoras da Fazenda Santa Rita, tinham uma cultura invejável para a época e para a região. Todos os que chegaram a conviver com elas tinham-lhes grande apreço e admiração. Durante a nossa infância e adolescência, nessa nossa passagem pela Fazenda Santa Rita, nós não tínhamos como avaliar o nível cultural de ambas, em nossa superficialidades de meninos. Sabíamos que eram bem elevados, pois as duas falavam e liam em francês, algo inusitado na época naquela região. Só para terem uma ideia, lembro-me muito bem que elas recebiam na fazenda o jornal francês Le Monde - se não me engano, era esse era o jornal -, e tinham o hábito de ler e comentar sempre que alguma novidade estava ocorrendo no mundo por volta dos anos 50 a 70.

Então, nesse nosso pequeno histórico, surge uma palavra importante: EDUCAÇÃO. Como eu disse, elas eram educadíssimas. Então! Educação é tudo! Educação de qualidade para todos representa perto de 100% dos nossos problemas sociais resolvidos e, consequentemente, a melhoria de qualidade de vida da população. Então, vamos abrir aqui um parágrafo para falarmos dela.

Quero deixar bem claro que não sou nenhum especialista em educação, e vou falar “en passant”, não vou me aprofundar no assunto. No entanto, como Engenheiro Cívil, eu posso assegurar que o que mantém um edifício de pé é a sua fundação bem executada, ou seja, a base de um edifício representa toda a garantia de sua sustentação. Isso não quer dizer que os demais elementos estruturais, assim como pilares, vigas, lajes e paredes não devam ser construídos de acordo com as especificações técnicas do projeto. Mas, assim como, para o edifício, a educação depende essencialmente da qualidade da base que os alunos recebem em sua formação inicial, na educação básica, na primeira infância, que é quando, são formados os alicerces para o desenvolvimento intelectual do ser humano. Dinheiro algum, na vida, faz o tempo voltar atrás. O que não se aprende em determinadas fases do nosso desenvolvimento dificilmente será totalmente recuperado. De acordo com o MEC, sete em cada dez alunos do ensino básico têm nível insuficiente em Português e Matemática. Então, onde será que estamos errando? Com certeza, é na qualidade do ensino fundamental. As razões são diversas e não me cabe, aqui, enumerá-las. Mas, será que não estamos queimando etapas ao negligenciarmos o investimento nesse bolsão de talentos que é o ensino fundamental? Lá na frente, vai “faltar perna” a esses alunos. Assim como os grandes jogadores são gerados nas escolinhas de base, os profissionais mais capacitados saem, certamente, da soma do esforço próprio com o que eles aprendem nos bancos escolares. Aqui, não importa a metodologia de ensino utilizada; o que importa é que estamos formando pessoas incapazes para enfrentar as diversidades do dia a dia no mercado de trabalho e a competitividade do mundo contemporâneo.

Aproveito para relatar um trecho da conversa que tive com a Maria Alice, a filha da Ecila: ela me disse que tem muita saudade da época em que Dona Fitinha a induzia a ler, coisa que foi fazendo cada vez mais, e que foi uma das coisas que a levaram a conseguir sempre notas máximas nas redações. Além de incentivá-la a ler, após a leitura ela devia fazer uma narrativa do conteúdo do livro e, segundo ela, foram muitos livros: à medida que os lia, ela já queria outro e mais outro... Então, aqui cabe a frase: “Um país se constrói com homens e livros”.

A Maria Alice mostrou que o incentivo à leitura estimulado por Dona Fitinha teve, para ela um significado muito importante, que foi traduzido em poder alcançar as maiores notas em redação e em saber “ler melhor” o mundo. Os livros abrem as fronteiras da nossa mente e nos levam aonde desejarmos.

Aproveito também para contar que minha irmã Maria da Glória (Goia) era uma leitora voraz que, durante o período em que cuidou da Biblioteca Municipal de Nova Venécia, deve ter lido centenas de livros. Quando eu comentei com ela sobre nossas férias na Santa Rita, ela logo mencionou que adorava ir lá pois havia ótimos livros para ler. Ela adorava ficar naquele paraíso, sentada, lendo aquelas maravilhas! Já nós, outros personagens desta narrativa (os irmãos e primos), sequer sabíamos da existência desses livros, mesmo porque não “encontrávamos tempo” em nossas brincadeiras ou atividades diárias para essa que é uma atividade tão importante na vida de todos nós: a leitura.

Dona Maria Neves, a inglesa, como gostava de ser chamada -, morava em Vitória, na rua Graciano Neves. Jeferson Carneiro Neves, o Jefinho (carinhosamente apelidado por nós de Professor Pardal, por sua engenhosidade), morava com ela. Como Jefinho e eu, além de primos, erámos muito amigos, eu sempre passava na casa da Dona Maria Neves - e lá estava ele envolvido e falando por rádio amador. Cada rádio amador tinha o seu prefixo, o dele era alguma coisa com VG – Válvula Grade. Como ele estudava Eletrotécnica na ETFES – Escola Técnica Federal do Espírito Santo - acho que esse prefixo tinha a ver com as disciplinas ensinadas lá.

Dona Maria Neves, como boa “inglesa”, gostava de tudo organizado e sempre mencionava que era fã da pontualidade britânica e discordava veementemente com a total desorganização do Brasil. Isso me lembra frase de Charles de Gaulle que refutamos mas na qual devemos refletir profundamente: “Este não é um país sério”.

Gostaria de comentar algo que aconteceu comigo no que diz respeito à Educação… Lógico que nossa infância e adolescência em Nova Venécia foram memoráveis e a realidade do nosso dia a dia era muito intensa no que diz respeito à diversão. Peladas banhos de rio, travessias da cochoeira e os passeios de canoa até a coroa eram uma constante na nossa vida, assim como, também, costumávamos fazer uma espécie de imitação dos seriados que apareciam no final dos filmes passados aos domingos nos cinemas do grego e do Paulinho. Esses seriados acabavam sempre em um suspense ou, mesmo, numa cena de perigo que só iríamos ver no próximo domingo. Podemos dizer que eram as séries de NETFLIX da nossa época… Lembro que, em um dos episódios, resolvemos fazer uma cena de perigo e Toninho Aranha e eu fomos amarrados, meio que de araque, dentro de um antigo cômodo abandonado. Em seguida, resolveram atear fogo em um monte de gravetos e papel e começou um fumaceiro danado: a brincadeira quase acabou em tragédia! Felizmente, conseguimos nos soltar e escapar, apesar de termos engolido um bocado de fumaça. E ainda me lembro de uma tal de “cambada”, uma brincadeira que ocorria geralmente à noite e ia até as tantas, só interrompida porque às 11h da noite a luz da cidade era desligada. Então, diante de tantos atrativos de entretenimento da época, não nos restava tempo para os estudos, que íamos levando aos trancos e barrancos. Vamos falar a verdade: não éramos dos mais estudiosos porque nos faltava “tempo” para essa importante atividade.

Tem até aquele caso contado pelo caçador, que foi caçar passarinho (patos do mato) e segundo ele em uma das caçadas apareceu um bando de patos e ele fez a festa, pois era só apontar a cartucheira para o bando e os pássaros iam sendo abatidos e em sua narrativa ele dizia que foram centenas de tiros, foi quando alguém perguntou. O fulano, me diz uma coisa e como você fazia, pela sua narrativa não consegui entender como você fazia para recarregar a arma. Foi quando ele virou e disse, olha não havia tempo para recarregar a arma. O nosso caso é mais ou menos semelhante pois não encontrávamos tempo para estudar.

Então quando cheguei em Vitória, fomos estudar no Colégio Estadual, sim aquele que fica nas proximidades do Clube Saldanha da Gama. Uma coisa importante na vida de todo estudante é a definição de que área do conhecimento seguir, na nossa época havia uma divisão que hoje ainda continua com algumas alternativas a mais. Geralmente as opções eram exatas e humanas. Havia inclusive um certo pavor da matemática por quem era de humanas  e vice versa pavor do português e geografia para quem era de exatas. Foi então que um certo dia o Jeferson Carneiro que na época estuda na Escola Técnica Federal, passou na casa de minha tia Isaura lá em Jucutuquara e me fez a seguinte pergunta. Como anda a sua matemática? e emendou, estou te fazendo esta pergunta porque em breve teremos que enfrentar o vestibular e precisamos ter uma boa base em matemática. Foi quando eu respondi, estou mais ou menos. Foi aí que ele me perguntou. Você topa fazer uma revisão geral de matemática? Eu prontamente respondi que sim. Para resumir a história, o que fizemos, compramos uns cinco livros mais famosos de matemática da época e passamos a resolver todos os problemas, o que podemos chamar de resolver todos os problemas dos livros de cabo a rabo. Isso de certa forma foi muito importante e teve um reflexo positivo para a continuidade dos estudos com um melhor aproveitamento, havíamos constatado que à medida que resolvíamos os problemas sentíamos mais confiantes em seguir na nossa batalha para sair vitorioso no vestibular. Aqui cabe uma observação, o que podemos chamar de treinamento exaustivo, ou mesmo de forma repetitiva. Abrindo um parêntese, em entrevista com Oscar do basquete, que também é conhecido como “o mão santa”, ao ser perguntado pelo repórter. Como você consegue manter este alto aproveitamento nos arremessos. Foi aí que ele respondeu, isso é fruto de um treinamento exaustivo que faço diariamente, tem dias que chego a fazer mais de 1000 arremessos. Inclusive ele disse que ele arremessava as bolas e a sua esposa as devolvia para novos arremessos.

Então, na matemática os Japoneses criaram uma metodologia chamada de Kumon, que consiste em um treinamento intensivo e repetitivo com objetivo de preparar os jovens para os novos desafios do mercado de trabalho.

O Kumon é uma metodologia que visa incentivar na criança a autonomia nos estudos, buscando fortalecer o potencial de aprendizado de cada um. Por meio de um processo de aprendizagem planejado e individualizado, o aluno se torna confiante e capaz de enfrentar sozinho o desafio da conquista do conhecimento

Então, isso nos faz crer que educação é tudo, inclusive a partir do momento que você toma gosto pelos estudos

Voltemos para a Santa Rita para rememorar um pouco do que eram as nossas adoráveis férias: nossas idas frequentes ao curral, às lavras (catas), os passeio a cavalo, banhos de córrego, caminhadas pelos arredores para,  entre outras coisas, pegar passarinhos – na época, era comum e permitido, ainda não existia a ameaça de extinção e, muito menos, a nossa consciência ecológica. Os preferidos da época eram os canários amarelos e pardos. Gostávamos mais dos amarelos. Também existia uma tendência de tentar pegar o Curió, mas era uma preferência secundária. Na realidade,  quem nos animava a pegar passarinhos era o Olavo, que era fascinado por eles. Eu e os demais, apesar de gostarmos como todo menino, não dávamos muita importância, íamos mais por farra. Já Olavo gostava de cuidar dos passarinhos, tinha por eles grande carinho.

Em nosso retorno para a casa da Fazenda Santa Rita, que geralmente acontecia alí pela hora doa almoço, quando já estávamos bem famintos e doidos para saborear aquelas comidas deliciosas.

Além de tudo isso não podemos deixar de mencionar as delícias do café da manhã e das refeições na Santa Rita, que geralmente eram feitas numa grande mesa do salão principal, e que, além dos deliciosos pratos servidos, vinham acompanhadas por aqueles indescritíveis temperos das fazendas.

REGIÃO DE PEDRAS PRECIOSAS – AS CATRAS E OS GARIMPEIROS

Vamos falar agora das lavras ou catras (buracos feitos no solo pelos garimpeiros em busca de pedras preciosas). A região da Serra de Cima era muito rica em pedras preciosas, como águas marinhas o berilo. Essa característica da região atraía muitos garimpeiros e tivemos a oportunidade de conviver e observar o dia a dia do garimpo na região. Essa era uma parte que despertava muita curiosidade e, sempre quando tinha alguém abrindo uma catra, lá estávamos nós. Geralmente, essas “catras” eram feitas em um tamanho de aproximadamente 4m X 3m, e as escavações eram manuais. Lembro que, em frente à casa da Santa Rita, descendo um morro, dava-se no córrego e, no seu entorno, existiam dezenas de catras que já haviam sido exploradas e que eram abandonadas assim que o garimpeiro chegava à conclusão de que não havia mais expectativas de encontrar nelas mais pedras preciosas. Até onde eu me lembro, eram encontrados os seixos rolados, alguns cristais e as escórias e em alguns casos as tão esperadas Águas Marinhas. As escórias eram um indicativo de que naquelas catras existiam boas chances de se encontrar pedras preciosas. Uma pergunta que ficou no ar e que na época não fizemos era como eles sabiam quais os locais com maior probabilidade de encontrar pedras preciosas. Imagino que faziam sondagens e os locais onde não encontravam cascalhos eram descartados, porque percebíamos que, entre uma catra e outra, havia um distância considerável de terreno não explorado pelos garimpeiros.

A seguir, fotos mostrando as catras e os tipos de pedras encontradas nas mesmas, durante o garimpo.

EXPLORAÇÃO DAS LAVRAS EM BUSVA DAS

 

PEDRAS  PRECIOSAS – CATRAS            

                         

Águas Marinhas

Catra

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Mostrando Casclhos e Escórias

Águas Marinhas na Forma Bruta

Escória

Cascalho

— Nome

Escória

Escória

— Nome

Cristal

Cristal

Escória

Escória

— Nome

Águas Marinhas Lapidadas

Águas Marinhas Lapidadas

— Nome

As pedras mais procuradas e mais cobiçada na época eram as Pedras Azuis, conhecidas como Águas Marinhas.

As Águas Marinhas eram até onde me lembro as preferidas e as mais procuradas, pois além de sua beleza, eram as que tinham maior valor de mercado.

PEGAR PASSARINHO – CANÁRIO AMARELO

Nos nossos passeios pelos arredores, lá íamos nós em busca de aventuras, que culminavam sempre com um banho de córrego. Em uma dessas nossas saídas, o Olavo já todo equipado com aquela gaiola que tinha uma divisão no meio e com um canário da terra amarelo, e, pendurado na gaiola, o alçapão. E lá fomos nós em busca de pegar um canário amarelo! Depois de muito rodarmos, paramos embaixo de uma árvore frondosa que nos fornecia uma bela sombra. Foi quando alguém percebeu o canto de um canário, já era muito conhecido por todos nós, principalmente lá em casa, onde havia pelo menos umas três gaiolas com canários amarelos. Então, verificarmos que no topo da árvore havia um canário amarelo que cantava muito, Uma coisa que tínhamos aprendido era que, na medida que você prendia um canário que canta muito, alguns deles deixam de cantar. Acredito que, por  ter havido uma mudança significativa em seu habitat natural, e alguns deles se ressentirem disso, talvez o não cantar significava uma espécie de protesto, como se eles estivessem dizendo-nos: “Nem vem que não tem, podem esquecer que jamais irão ouvir os meus cantos!” E... alguns eram soltos exatamente por esse comportamento.

Voltando à nossa tentativa de capturar o dito canário amarelo, após armarmos o alçapão, colocamos a gaiola em um local mais alto e saímos de perto achando que o canário cantador iria ser atraído pelo canário que estava na gaiola. Levamos um tempão aguardando que algo acontecesse e nada do canário descer na gaiola. Fomos embora frustrados e pretendendo voltar no dia seguinte, já que Olavo falara que este canário era muito valioso. Claro que, na época, não era como hoje, proibido. Inclusive, existia um mercado de compra e venda de pássaros de um modo geral. Felizmente, não é mais permitido, e o resultado é que a reprodução dos canários da terra anda a todo vapor e sempre vemos bandos deles, tanto pardos quanto amarelos.

No dia seguinte, preparamo-nos para ir tentar pegar o tal canário amarelo cantador. E é aí que entra o Jeferson Carneiro, o  nosso “Professor Pardal”: ele teve a ideia de elevar a gaiola até bem próximo de onde estava o canário. Chegando no local, tivemos que arremessar a corda inúmeras vezes até conseguir esse objetivo. Lógico que a primeira coisa foi identificar se o tal canário cantador ainda estava lá. Após constatarmos que sim,  elevamos a gaiola até estar próxima ao canário. Claro que não me lembro quanto tempo durou esta operação, mas uma coisa é certa: nós conseguimos...

Depois de todas as lembranças e lições que as férias e idas à Fazenda Santa Rita deixaram em nós, repito, aqui, um dos conselhos do meu pai:

“Meu filho, como sempre me ensinava minha madrinha Fitinha, todo dia, ao acordar, faça tudo sempre nessa ordem: primeiro a devoção, depois a obrigação e, finalmente, a diversão”.

Sim,  ele também era afilhado dela!

Em minha última visita à Fazenda Santa Rita, tive a oportunidade de recordar os bons tempos que por lá passamos nas nossas férias escolares, e ao rever a casa da sede da fazenda, me veio a recordação do primo Ricardo Carneiro Neves (In memorium), pois me lembrei perfeitamente de nós dois conversando no quarto da frente da casa em que a janela dava para a varanda, isso exatamente no final da varanda da fachada principal da casa, o que conversávamos na época, só Deus sabe, a minha memória não é tão boa assim para lembrar do que tratávamos. 

Não é nem preciso dizer que fomos muito bem recebidos por Ecila e todos que por lá estavam, e nesta visita, tivemos o prazer de saborear pratos deliciosos servidos no restaurante montado exclusivamente para receber os turistas que visitam a região em busca de conhecimentos históricos dos pioneiros que habitaram e desbravaram a região nos idos de 1870.

Esta visita, se reveste de importância para os moradores de Nova Venécia, pois, Ecila e as filhas, fazem um resgaste da história  do desenvolvimento da região e de todos que por lá passaram e deixaram suas marcas indeléveis. Dentre essa pessoas podemos destacar as madrinhas Alice Neves e Carmen Neves, para as quais só temos elogios. Portanto, acho importante a visita dos jovens venecianos para conhecerem um pouco da história do desbravamento desta região. Isso irá aguçar a mente destes jovens em busca de mais informações e posso adiantar, que vale também para os mais velhos, pois com essa pandemia, foi que tive a curiosidade de conhecer um pouco mais da nossa história. Finalizo indicando o livro "À SOMBRA DO ELEFANTE", dos historiadores , Izabel Maria da Penha Piva e Rogério Frigério Piva, para um melhor conhecimento das histórias do desbravamento do Município de Nova Venécia,

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Canário da Terra Amarelo

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